Outro dia entramos na pediatria e depois de meia hora ja brincando eu me dei conta de um pequeno e merissimo detalhe havia esquecido meu nariz vermelho, comecei a rir e rir quando um dos meus companheiros de turno me questionou eu apenas coloquei o indicador no nariz e continuei rindo e ele sem entender nada disse sou palhaço nao mago nao tem como adivinhar pq vc ri, ah ai que eu ria mais mesmo, quando consegui me controlar ate a outra clown ja estava prada na minha frente os dois tentando decifrar o misterio " Fiorella com crise de riso em plena pediatria".
Me recompus e lhes disse calmamente antes de cair no riso novamente: - Meu nariz, estou sem o nariz .
Ok pode nao parecer assim tao engraçado, mas vestir-se de Fiorella me deicha fora de tudo que ocorre dentro do hospital è como uma bolha invisível mas protetora.
Se eu entrasse ali assim euzinha ui ui ficaria doida, quero carregar tudo nas costas, e absorvo a dor alheia, no fim nao seria util a nada e ainda sairia de la mal.
Mas quando entra em ação Fiorella a coisa muda, sou rosa eu posso rir mesmo diante de uma criança que esta deitada em uma maca tomando medicação por tubos, eu posso fazer bolhas de sabão cantando e dançando com meu vestido cheio de flores girando dentro de um quarto frio onde voa uma tensão mista de tristeza e preocupação dos pais de um bebe que recebe cuidados medicos.
Existe esse limite, ao qual Fiorella sempre foi forte, eu sou feita de emçoes e não seria eu se não as fizessem vir a tona assim como sou de um equilibrio invejavel kkkkkk quem escuta acredita mas quem conhece sabe que a realidade è bem outra se apertar eu choro mesmo, e de soluços viu, pode ser cena de filme pode ser uma frase, ou mesmo uma lembrança eu abro o o bocão, ainda assim sou categórica em dizer não choro assim do nada.
Certas experiências nos são dadas como presentes algumas devemos saborear sozinhos, degustando e absorvendo o maximo possivel e algumas no momento certo è como uma bola tirada fora em uma roda de amigos acaba gerando momentos prazerosos.
Levando em considerção a segunda ideia resolvi hoje por um motivo ate triste a perda de um joven, filho de uma amiga, dividir uma experiencia vivida em um turno na casa de repouso conhecida no brasil como "Asilo" fiz um turno muito especial.
Geralmente casa de repouso è bem mais descontraido que hospital nao temos a preocupação
com o barulho e tal ali fazemos uma bela confusão com musica canto è uma folia, porem ali tb entramos com todo o respeito nos quartos e quando tem os idosos acamados nos aproximamos com toda atenção e delicadeza para portarmos um pouco de carinho e companhia, quando ainda estava conhecendo estava ainda engatinhando com a Fiorella entrei em um quarto acompanhada de uma clown muito muito especial para mim MIMI um exemplo de doçura, sua voz è doce e ate o seu caminhar è calmo, entramos naquele quarto juntas,sabe nem sempre os turnos sao pura risada nos sabemos que por traz dos nossos narizes vermelhos escondemos sentimentos que sequer ousamos sentir.
Mimi se aproximou de uma maca, abaixou seus olhos e como uma pluma leve no ar eu vi sua mão caminhando em direção a um rosto imóvel e sem expressao, começou a acariciar uma pele macia e marcada pelo tempo com rugas que desenhavam uma vida.
Varias vezes me questionei o que faziamos dentro do hospital ou casa de repouso em certas situçoes, as vezes me parecia que se nao estivessemos ali seria melhor digo para o paciente.
Observei enquanto conversava com uma outra paciente que Mimi estava ali com os olhos fixos aqueles olhos que sequer pareciam que a olhavam, ela sorria e acariciava e quem a visse seria capaz de dizer que estavam tendo uma bela conversa.
Me aproximei quando tb se aproximou a enfermeira,que nos contou que a senhora estava assim a dois dias, com os olhos fixos no teto .
quando me aproximei ela me seguiu com os olhos, Mimi me olhou subito e me disse vc viu isso ela esta te olhando, parei olhei nos olhos dela e ela estava olhando nos meus,pude ver os olhos que um dia eu ja tinha visto, e doeu meu pai como doeu,como um extinto natural lhe pedi licença e lhe acariciei a testa, passando os dedos por seus cabelos a cada movimento com minha cabeça ela me acompanhava com os olhos,mas estar ali doia e muito mais do qialqier um ali dentro pudesse ver ou imaginar, me tocou uma ferida que sempre estara aberta em meu coraçao, lhe dei um beijo em sua testa e ela fechou os olhos como se aceitasse meu beijo, depois voltou a me fixar, comecei a acariciar sua mao, quando ela entreaçou os seus dedos com os meus , segurando minha mao com toda a força que tinha ,fiquei ali por uns 30 mits em pé, o turno seguiu e eu decidi ficar, a dor tb me trazia um pedacinho bom quase que um olhar pela janela.
Esta senhora faleceu pouco depois que saimos da casa de repouso, e acreditem eu nao fiz nada por ela e sim o contrario, ela viu em mim a Fiorella, que resistiu estar ali firme sorrindo enquanto eu sai de la reconstruindo meus caquinhos, e os colando com rios de lagrimas.
E sabem o que meu responsavel de turno disse qd eu lhe disse mas vcs nao notaram que eu estava sem o nariz vermelho.
"Voce é tao Fiorella que nem da pra perceber".
Não é um nariz vermelho que faz a Fiorella existir, assim como não é uma característica sua que a faz importante e sim um todo.
Saber sorrir com a alma a quem esta chorando, acariciar com as mãos o sofrimento alheio isso faz parte de ser Doutor Clown.
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